Era uma vez...
'Eu queria ser poeta. Conhecer o ofício das palavras. Realizar a proeza de desvendar os silêncios. E descobrir o que o outro fala mesmo quando não diz.'
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Pai Nosso...
sábado, 30 de outubro de 2010
O gato e o rato
terça-feira, 31 de agosto de 2010
O Circo das Ideias Soltas
domingo, 1 de agosto de 2010
A ninfa e o jardineiro
quarta-feira, 24 de março de 2010
O Povoado das Sombras
sexta-feira, 5 de março de 2010
A Boneca de Cera e o Soldado de Chumbo
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
O Arco da Amizade
Houve um tempo em que as sete cores matrizes resolveram se encontrar para discutir qual, dentre elas, era a mais bela para que esta, até o fim dos tempos, presidisse todas as cores em um trono celeste. No entanto, um alvoroço incontrolável não permitira que chegassem a um consenso. Cada cor desejava ser a mais vistosa e importante e, uma a uma, foram encontrando defeitos em suas irmãs.
– Vermelho – pestanejou a Laranjado – é a cor do fogo que se alastra pelas coisas e queima o mundo. É destruição e jamais poderia ser eleita a mais bela!
– Olhe para si mesma, Laranjado! – ordenou Amarelo – Que seria do fogo na ausência de seus tons? Veja! Olhando daqui até parece ser laranjado o fogo que se mantém aceso no Sol que queima a pele, causa doenças e seca rios e terras.
– Que lições são essas, Amarelo? – surgira a Verde a questionar – Acaso existe doença mais terrível que a causada pela sua cor? O homem que destrói a terra, trai, inveja e mata seus próprios amigos nada mais quer que desfrutar e esbanjar de sua cor, presente no ouro.
– Quem é, oh! Verde! Para pregar-nos sermões? – Veio o Azul a debochar-lhe – De que nos vale o verde quando tudo em que se encontra nada mais quer do que madurar? A sua é a cor provisória. É nada mais que a imperfeição de tudo o que ainda não está pronto para ser colhido!
– Azul, Azul... – interveio Anil – Porque é sempre tão frio? Jamais votarei em você, para que presida o céu. A imensidão dos oceanos em que está presente assusta a todos nós e, além disso, impossibilita-nos de compreendê-lo. Quem, em sã consciência, poderá nos dizer o que se esconde por debaixo de suas águas?
– Anil, – chamou-lhe Violeta – quem pensa ser? Nada mais é que uma cópia barata da Azul. Você a inveja! Além do mais, a incerteza que encontro no oceano, nada se compara à que encontro no céu! Quem de nós poderá esclarecer os mistérios que o envolvem?
– Onde está Violeta? – indagou a Vermelho – Onde se encontra sua cor em toda a vastidão da natureza? Quem foi o louco que a elegeu a cor matriz?
E assim, a discussão perdurou-se por vários dias. Até que Branco, passando por ali, escutou o alvoroço e dispôs-se como juíza da discussão. Ouviu a versão de cada cor e, com isso, reparou que as cores mais se atacavam com defeitos alheios que se defendiam com características próprias. Sendo assim, aconselhou cada uma a procurar a melhor qualidade de uma de suas irmãs.
– É verdade que o fogo arde e queima a vida, – Laranjado deu início – no entanto, Vermelho é cor da paixão, que aquece a alma, assim como o fogo aquece o corpo de quem sofre pelo frio. Vermelho é sim a cor mais bela!
– Dessa forma, Laranjado, – prosseguiu Amarelo – você se elege ao trono, pois, como disse antes, o Sol também tem sua cor! Você aquece os corpos, deixa-os fortes e vitaminados, é a cor da energia. Além do mais, no verde das árvores que dão frutos, muitas vezes sua cor é destaque. Laranjado é sim a cor mais bela!
– Jamais deixarei passar por despercebido a riqueza que sua cor promove, Amarelo! – exclamou Verde – Mesmo com seu ouro, o que me impressiona são outros tesouros. É a cor de todas as riquezas. Ou esquece-se de que no céu não há riqueza mais reluzente que o brilho das estrelas? Amarelo é sim a cor mais bela!
– No entanto, querida Verde, – reconheceu Azul – olhe mais para perto! Olhe na terra e tente me responder: existe cor mais abundante onde nos encontramos que não a sua? É a cor da esperança. Verde é sim a cor mais bela!
– Eu o digo, – respondeu-lhe Anil – oh! Grandioso Azul! Existe sim, na terra, imensidão maior. Mas me questiono se há, no Universo, uma que se equipare à sua própria grandeza. A abundância de suas águas é o que sustenta a vida, à qual todos nós impregnamo-nos. É amizade. Azul é sim a cor mais bela!
– No Universo, Anil? – questionou Violeta – Oh! Sim! Olhe para as alturas! O manto gigante que nos cerca e cobre possui a sua cor. É saúde! Anil é sim a cor mais bela!
– Perdoa-me, Violeta – implorou Vermelho – pelo que anteriormente havia dito a seu respeito. É verdade que é misteriosa e esconde-se na natureza, entretanto, olhe o crepúsculo e tente me dizer qual cor exerce maior fascínio sobre os homens que você. É magia. Violeta é sim a cor mais bela!
As sete cores fizeram, então, um pacto e decidiram reinar juntas até o fim dos tempos. Às vezes, quando se faz necessário, aparecem unidas no céu para lembrar a humanidade de que cada ser possui em si luz e treva e que ninguém é completamente bom ou mal. Aprenderam que o selo da amizade eterna é saber enxergar, no próximo, o que de melhor ele tem a oferecer.
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
O Espelho do Futuro
Conta-se que há alguns anos, um garoto nascera predestinado a ter êxito em tudo a que propusesse realizar. Tamanho sucesso, diziam seus amigos, devia-se a certo dom divino. No entanto, seu irmão acreditava que tudo o que lhe acontecia era obra de um espelho herdado de seu pai que produzia como reflexo o futuro de quem a sua frente se postasse. Assim sendo, seu irmão, a quem a vida sempre exigira mais, passou a invejar o espelho e todos os benefícios que ele proporcionava a seu único familiar.
“Se aquele espelho fosse meu”, pensava e dizia o irmão, “conseguiria tudo o que um homem pode desejar.”
O garoto, então, resolveu presentear seu irmão com o espelho, para provar-lhe que conhecer seu futuro não poderia lhe garantir vitórias incondicionais em suas ações.
Seu irmão, assim, frente ao espelho, focalizara na mente a mulher a quem dedicava seu amor. Viu seu reflexo correr no tempo e jogar tudo para o alto para ficar com sua amada, ao longo de uma vida prazerosa e cheia de amor. A certo ponto de sua vida, no entanto, percebeu pelo espelho que passaria grandes dificuldades financeiras e não daria a seus filhos e mulher tudo o que almejava oferecer-lhes. E viu, através dos olhos de seu próprio reflexo, a tristeza que aquilo lhe causava.
Descartando aquela previsão, mentalizou fortemente uma vida de trabalho e dedicação. Logo, viu no espelho o reflexo de seu possível futuro. Viu-se cheio de riquezas, carros do ano, trabalhos bem sucedidos e mulheres brigando para lhe fazer companhia. Deslumbrou-se com aquela visão. E, enquanto olhava, percebeu o egoísmo nos olhos de seu reflexo. A bebida já não lhe saciava, a comida já não lhe enchia e as mulheres já não o satisfaziam.
Infeliz com seu possível futuro, imaginou-se levando a vida sem grandes decisões. Viu-se, assim, como uma pessoa feliz com o pouco que tem. Mas, enquanto se olhava, percebeu o vazio nos olhos de seu próprio reflexo. Aquele seu possível futuro levava a vida de maneira irresponsável e não lutava por nada. Apenas deixava que a própria vida lhe trouxesse as oportunidades. Pelo reflexo, logo se via que não eram muitas e, as poucas, não as melhores.
Dessa forma, o irmão do verdadeiro dono do espelho lhe devolveu o artefato mágico e disse-lhe, que mesmo que o segredo para seu sucesso consistisse na previsão de seu futuro, ainda assim ele possuía um dom ímpar para corrigi-lo. O dono do espelho, naquele dia, revelou a seu irmão o que lhe garantia êxito em tudo o que colocava suas mãos. O mistério era o meio termo. E nunca se deixar levar por um vício.
“A sua vida”, disse ele, “será exatamente os efeitos de suas escolhas e atos. Todos temos, mais cedo ou mais tarde, aquilo que merecemos. Isso dá-me a segurança para tomar partido, e não um espelho que reflete o futuro. Pois o futuro, que só a Deus pertence, é, na realidade, nada mais do que as consequências de tudo o que eu faço.”